"Cada um colherá aquilo que plantou. Se tu plantaste vento colherás tempestade. Mas, se tu entenderes que com luta, o sofrimento pode tornar-se alegria, vereis que deveis tomar consciência do que foste teu passado, aprendendo com teus erros, visando o crescimento e a felicidade do futuro. Não sejais egoísta. Aquilo que te fores ensinado passai aos outros, e aquilo que recebeste de graça, de graça tu darás. Porque só no amor, na caridade e na fé, é que tu podeis encontrar o teu caminho interior, a luz e DEUS" .
Pai Cipriano
Pai Cipriano
Por Débora Caparica
Para podermos entender um pouco melhor esta linha de trabalho tão importante dentro da Umbanda, vamos rever um pouco da história de como os negros chegaram a terras brasileiras.
As grandes metrópoles do período colonial: Portugal, Espanha, Inglaterra, França, etc; subjugaram nações africanas, fazendo dos negros mercadorias, objetos sem direitos ou alma.
Os negros africanos foram levados a diversas colônias espalhadas principalmente nas Américas e em plantações no Sul de Portugal e em serviços de casa na Inglaterra e França.
Os traficantes coloniais utilizavam-se de diversas técnicas para poder arrematar os negros:
Chegavam de assalto e prendiam os mais jovens e mais fortes da tribo, que viviam principalmente no litoral Oeste, no Centro-oeste, Nordeste e Sul da África.
Trocavam por mercadoria: espelhos, facas, bebidas, etc. Os cativos de uma tribo que fora vencida em guerras tribais ou corrompiam os chefes da tribo financiando as guerras e fazendo dos vencidos escravos.
No Brasil os escravos negros chegavam por Recife e Salvador, nos séculos XVI e XVII, e no Rio de Janeiro, no século XVIII.
Os primeiros grupos que vieram para essas regiões foram os Bantos; Cabindos; Sudaneses; Iorubás; Gêges; Hauçá; Minas e Malês.
A valorização do tráfico negreiro, fonte da riqueza colonial, custou muito caro; em quatro séculos, do XV ao XIX, a África perdeu, entre escravizados e mortos, 65 a 75 milhões de pessoas, e estas constituiam uma parte selecionada da população.
Arrancados de sua terra de origem, uma vida amarga e penosa esperava esses homens e mulheres na colônia: trabalho de sol a sol nas grandes fazendas de açúcar.
Tanto esforço, que um africano aqui chegado durava, em média, de sete a dez anos!
Em troca de seu trabalho os negros recebiam três "pês": Pau, Pano e Pão.
E reagiam a tantos tormentos suicidando-se, evitando a reprodução, assassinando feitores, capitães-do-mato e proprietários.
Em seus cultos, os escravos resistiam, simbolicamente, à dominação.
A "macumba" era, e ainda é um ritual de liberdade, protesto, reação à opressão. As rezas, batucadas, danças e cantos eram maneiras de aliviar a asfixia da escravidão.
A resistência também acontecia na fuga das fazendas e na formação dos quilombos, onde os negros tentaram reconstituir sua vida africana.
Um dos maiores quilombos foi o Quilombo dos Palmares onde reinou Ganga Zumba ao lado de seu guerreiro Zumbi (protegido de Ogum).
Os negros que se adaptavam mais facilmente à nova situação recebiam tarefas mais especializadas, reprodutores, caldeireiro, carpinteiros, tocheiros, trabalhador na casa grande (escravos domésticos) e outros, ganharam alforria pelos seus senhores ou pelas leis do Sexagenário, do Ventre livre e, enfim, pela Lei Áurea.
A Legião de espíritos chamados "Preto-Velhos" foi formada no Brasil, devido a esse torpe comércio do tráfico de escravos arrebanhados da África.
Estes negros aos poucos conseguiram envelhecer e constituir mesmo de maneira precária, uma união representativa da língua, culto aos Orixás e aos antepassados, e tornaram-se um elemento de referência para os mais novos, refletindo os velhos costumes da Mãe África.
Eles conseguiram preservar e até modificar, no sincretismo, sua cultura e sua religião. Idosos mesmo, poucos vieram, já que os escravagistas preferiam os jovens e fortes, tanto para resistirem ao trabalho braçal, como às exemplificações com o látego.
Porém, foi esta minoria o compêndio no qual os incipientes puderam ler e aprender a ciência e sabedoria milenar de seus ancestrais, tais como o conhecimento e emprego de ervas, plantas, raízes, enfim, tudo aquilo que nos dá graciosamente a Mãe Natureza.
Mesmo contando com a religião, suas cerimônias e cânticos, esses moços logicamente não poderiam resistir à erosão que o grande mestre, o tempo, produz sobre o invólucro carnal, como todos os mortais.
Mas a mente não envelhece, apenas amadurece.
Não podendo mais trabalhar duro de sol a sol, constituíram-se a nata da sociedade negra subjugada.
Contudo, o peso dos anos é implacavelmente destruidor, como sempre acontece. O ato final da peça que encarnamos no vale de lágrimas que é o planeta Terra é a morte.
Mas eles voltaram.
A sua missão não estava ainda cumprida.
Precisavam evoluir gradualmente no plano espiritual.
Muitos ainda, usando seu linguajar característico, praticando os sagrados rituais do culto, utilizados desde tempos imemoriais, manifestaram-se em indivíduos previamente selecionados de acordo com a sua ascendência (linhagem), costumes, tradições e cultura.
Teriam que possuir a essência intrínseca da civilização que se aprimorou após incontáveis anos de vivência.
Os Pretos-Velhos na Umbanda
São espíritos extremamente evoluídos, que se apresentam em um corpo fluídico de velhos africanos que viveram nas senzalas.
E com essa forma humilde evitam intimidar as pessoas que os procuram a fim de resolver problemas diversos.
Com este subterfúgio, conseguem maior proximidade com o consulente e ensinam como as pessoas podem aprender com os próprios erros e como fazer para avançar na escala espiritual.
Eles representam a humildade, força de vontade, a resignação, a sabedoria, o amor e a caridade.
São um ponto de referência a todos que necessitam: curam, ensinam, educam pessoas e espíritos sem luz.
Não tem raiva ou ódio pelas humilhações, atrocidades e tortura a que foram submetidos no passado.
Não se pode dizer que em sua totalidade esses espíritos são diretamente os mesmos Pretos-Velhos da escravidão, pois, no processo cíclico da reencarnação, passaram por muitas vidas anteriores, foram: negros escravos, filósofos, médicos, ricos, pobres, iluminados e outros.
Mas para ajudar aqueles que necessitam, escolheram ou foram escolhidos para voltar a terra em forma incorporativa de Preto-Velho, assumindo essa forma com o objetivo de manter uma perfeita comunicação com aqueles que os procuram em busca de ajuda.
São os verdadeiros doutrinadores dentro da Umbanda, são mestres da sabedoria e humildade.
Através de suas várias experiências, em inúmeras vidas, entenderam que somente o amor constrói e une a todos, que a matéria nos permite existir e vivenciar fatos e sensações, mas que a mesma não existe por si só, nós é que a criamos para estas experiências, e que a realidade é o espírito.
Com seus cachimbos e sua fala pausada, tranqüilidade nos gestos, eles escutam e ajudam aqueles que necessitam independente de sua cor, idade, sexo ou religião.
São extremamente pacientes com seus filhos, e como poucos, sabem incutir-lhes os conceitos de Karma, e ensinar-lhes resignação, mostrando que o amor a Deus, o respeito ao próximo e a si mesmo, o amor próprio, a força de vontade e encarar o ciclo da reencarnação, podem aliviar os sofrimentos do Karma e elevar o espírito para a Luz Divina, fazendo com que as pessoas entendam seus problemas e suas soluções dentro da Lei de Causa e Efeito.
Eles aliviam o fardo espiritual de cada pessoa fazendo com que ela se fortaleça espiritualmente.
Quando a pessoa se fortalece e cresce, consegue carregar mais comodamente o peso de seus sofrimentos, ao passo que se ela se entrega ao sofrimento e ao desespero enfraquece e sucumbe por terra pelo peso que carrega.
Então cada um pode fazer com que seu sofrimento diminua ou aumente de acordo como encare seu destino e os acontecimentos de sua vida.
Por isso quando falar com um Preto-Velho, tenha humildade e saiba escutar, não queira milagres ou que ele resolva seus problemas, como em um passe de mágica, entenda que qualquer solução tem o princípio dentro de você mesmo, tenha fé, acredite em você, tenha amor a Deus e a você mesmo.
Para muitos os Pretos Velhos são conselheiros, mostrando a vida e seus caminhos, para outros são psicólogos, amigos, confidentes e mentores espirituais.
São também mandingueiros poderosos, com seu olhar perscrutador, sentado em seu banquinho fumando seu cachimbo, benzendo com seu ramo de arruda, rezando com seu terço e aspergindo sua água fluidificada, demandam contra o baixo astral e suas baforadas são para a limpeza e harmonização das vibrações de seus médiuns e consulentes.
Conhecedores profundos da Magia Divina e manipulação das ervas, combatem as forças negativas (o mal), espíritos obsessores e kiumbas, e auxiliados pelos Exus desfazem trabalhos.
Falanges
As falanges de Pretos Velhos se formaram de acordo com a região de onde vieram, como:
· Congo
· Aruanda
· D’Angola
· Guiné
· Moçambique
· Keto, e outros
Nomes
Há muita controvérsia sobre o fato de o nome do Preto-Velho ser uma miscelânea de palavras portuguesas e africanas.
Voltemos ao passado, na época que cognominamos "A Idade das Trevas" no Brasil, dos feitores e senhores, senzalas e quilombos, sendo os senhores feudais brasileiros católicos ferrenhos (devido à influência portuguesa) não permitiam a seus escravos a liberdade de culto.
Eram obrigados a aprender e praticar os dogmas religiosos dos amos.
Porém eles seguiram a velha norma: contra a força não há resistência, só a inteligência vence.
Faziam seus rituais às ocultas, deixando que os déspotas em miniatura acreditassem estar eles doutrinados para o catolicismo, cujas cerimônias assistiam forçados.
As crianças escravas recém-nascidas, na época, eram batizadas duas vezes.
A primeira, ocultamente, na nação a que pertenciam seus pais, recebendo o nome de acordo com a seita.
A segunda vez, na pia batismal católica, sendo esta obrigatória e nela a criança recebia o primeiro nome dado pelo seu senhor, sendo o sobrenome composto de cognome ganho pela Fazenda onde nascera (Ex.: Antônio da Coroa Grande), ou então da região africana de onde vieram (Ex.: Joaquim D'Angola).
O termo "Velho", "Vovô" e "Vovó" é para sinalizar sua experiência, pois quando pensamos em alguém mais velho, como um vovô ou uma vovó subentendemos que essa pessoa já tenha vivido mais tempo, adquirindo assim sabedoria, paciência, compreensão. É baseado nesses fatores que as pessoas mais velhas aconselham.
No mundo espiritual é bastante semelhante, a grande característica dessa linha é o conselho.
É devido a esse fator que carinhosamente dizemos que são os "Psicólogos da Umbanda".
Eis aqui, como exemplo, o nome de alguns Pretos-Velhos:
Pai Cambinda (ou Cambina), Pai Roberto, Pai Cipriano, Pai João ,Pai Congo, Pai José D'Angola, Pai Benguela, Pai Jerônimo, Pai Francisco, Pai Guiné, Pai Joaquim, Pai Antônio, Pai Serafim, Pai Firmino D'Angola, Pai Serapião, Pai Fabrício das Almas, Pai Benedito, Pai Julião, Pai Jobim, Pai Jobá, Pai Jacó, Pai Caetano, Pai Tomaz, Pai Tomé, Pai Malaquias, Pai Dindó, Vovó Maria Conga, Vovó Manuela, Vovó Chica, Vovó Cambinda (ou Cambina), Vovó Ana, Vovó Maria Redonda, Vovó Catarina, Vovó Luiza, Vovó Rita, Vovó Gabriela, Vovó Quitéria, Vovó Mariana, Vovó Maria da Serra, Vovó Maria de Minas, Vovó Rosa da Bahia, Vovó Maria do Rosário, Vovó Benedita.
Obs: Normalmente os Pretos-Velhos tratados por Vovô ou Vovó são mais “velhos” do que aqueles tratados por Pai, Mãe, Tio ou Tia).
Características Linha e Irradiação
Todos os Pretos-Velhos se organizam na Umbanda em linha formada por eles mesmos; a linha de Preto-Velho.
Eram obrigados a aprender e praticar os dogmas religiosos dos amos.
Porém eles seguiram a velha norma: contra a força não há resistência, só a inteligência vence.
Faziam seus rituais às ocultas, deixando que os déspotas em miniatura acreditassem estar eles doutrinados para o catolicismo, cujas cerimônias assistiam forçados.
As crianças escravas recém-nascidas, na época, eram batizadas duas vezes.
A primeira, ocultamente, na nação a que pertenciam seus pais, recebendo o nome de acordo com a seita.
A segunda vez, na pia batismal católica, sendo esta obrigatória e nela a criança recebia o primeiro nome dado pelo seu senhor, sendo o sobrenome composto de cognome ganho pela Fazenda onde nascera (Ex.: Antônio da Coroa Grande), ou então da região africana de onde vieram (Ex.: Joaquim D'Angola).
O termo "Velho", "Vovô" e "Vovó" é para sinalizar sua experiência, pois quando pensamos em alguém mais velho, como um vovô ou uma vovó subentendemos que essa pessoa já tenha vivido mais tempo, adquirindo assim sabedoria, paciência, compreensão. É baseado nesses fatores que as pessoas mais velhas aconselham.
No mundo espiritual é bastante semelhante, a grande característica dessa linha é o conselho.
É devido a esse fator que carinhosamente dizemos que são os "Psicólogos da Umbanda".
Eis aqui, como exemplo, o nome de alguns Pretos-Velhos:
Pai Cambinda (ou Cambina), Pai Roberto, Pai Cipriano, Pai João ,Pai Congo, Pai José D'Angola, Pai Benguela, Pai Jerônimo, Pai Francisco, Pai Guiné, Pai Joaquim, Pai Antônio, Pai Serafim, Pai Firmino D'Angola, Pai Serapião, Pai Fabrício das Almas, Pai Benedito, Pai Julião, Pai Jobim, Pai Jobá, Pai Jacó, Pai Caetano, Pai Tomaz, Pai Tomé, Pai Malaquias, Pai Dindó, Vovó Maria Conga, Vovó Manuela, Vovó Chica, Vovó Cambinda (ou Cambina), Vovó Ana, Vovó Maria Redonda, Vovó Catarina, Vovó Luiza, Vovó Rita, Vovó Gabriela, Vovó Quitéria, Vovó Mariana, Vovó Maria da Serra, Vovó Maria de Minas, Vovó Rosa da Bahia, Vovó Maria do Rosário, Vovó Benedita.
Obs: Normalmente os Pretos-Velhos tratados por Vovô ou Vovó são mais “velhos” do que aqueles tratados por Pai, Mãe, Tio ou Tia).
Características Linha e Irradiação
Todos os Pretos-Velhos se organizam na Umbanda em linha formada por eles mesmos; a linha de Preto-Velho.
Fios de Contas (Guias)
Muitos dos Pretos-Velhos Gostam de Guias com Contas de Rosário de Nossa Senhora, alguns misturam favas e colocam Cruzes ou Figas feitas de Guiné ou Arruda.
Roupas
Preta e branca; carijó (xadrez preto e branco).
As Pretas-Velhas às vezes usam lenços na cabeça e/ou batas; e os Pretos-Velhos às vezes usam chapéu de palha.
Bebida
Café preto, vinho tinto, vinho moscatel, cachaça com mel (às vezes misturam ervas, sal, alho e outros elementos na bebida).
Dia da semana: Segunda-feira
Chakra atuante: básico ou sacro
Planeta regente: Saturno
Cor representativa: preto e branco;
Saudação: Cacurucaia (Deve sempre ser respondida com “Adorei as Almas”)
Fumo: cachimbos ou cigarros de palha.Obs: Os Pretos-Velhos às vezes usam bengalas ou cajados.
Cozinha Ritualística
Tutu de feijão preto.
Mingau das almas.
É um mingau feito de maizena e leite de vaca (às vezes com leite de coco), sem açúcar ou sal, colocado em tigela de louça branca. É comum colocar-se uma cruz feita de fitas pretas sobre esse mingau, antes de entregá-lo na natureza.
Bolinhos de Tapioca
Os bolinhos de tapioca são feitos colocando-se a tapioca de molho em água quente (ou leite de coco, se preferir), de modo a inchar.
Quando inchado, enrole os bolinhos em forma de croquete e passe-os em farinha de mesa crua.
Asse na grelha.
Colocar os bolinhos em prato de louça branca podendo acrescentar arruda, rapadura, fumo de rolo, etc.
Obs: Nas sessões festivas de Pretos-Velhos, é usual servir a tradicional feijoada completa, feita de feijão preto, miúdos e carne salgada de boi, acompanhada de couve à mineira e farofa.
Saravá os Pretos-Velhos!
Cacurucaia!
Cacurucaia!
Adorei as Almas!
Saravá a Umbanda!
Axé...
Fonte: Curso de Umbanda “Sociedade Espiritualista Mata Virgem”, terreirotioantonio.com.br
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