quarta-feira, 31 de maio de 2017

O FUMO E A BEBIDA NAS SESSÕES DE UMBANDA

     Muitos se perguntam se é realmente necessário o uso do fumo e bebida nas giras de Umbanda.

     Questão que gera inúmeras controvérsias é o fato dos guias e entidades que se manifestam através de seus médiuns utilizarem-se do fumo e de bebidas, o que leva alguns críticos da religião a classificarem-na como “baixo espiritismo” e estarem os espíritos que nela atuam em grau evolutivo inferior. Tal assertiva não passa do mais errôneo entendimento do que acontece na liturgia da Umbanda.
     Através de uma análise histórica, pode-se verificar que diversas são as religiões que se utilizam da bebida em seus fundamentos. Na mitologia Grega, o Deus Zeus juntamente com uma mortal de nome Semele, deu origem a Dionísio, o Deus do vinho e, os romanos com a expansão de seus costumes pela Europa inteira, deram fama a Baco, o equivalente romano ao Deus do vinho grego.

     Com o Cristianismo, o vinho também mostra sua importância, desde o momento em que Jesus brindava o amor do Pai Celestial repartindo o vinho com seus apóstolos e seguidores. Até os dias de hoje a Igreja Católica compartilha o pão e o vinho entre seus fiéis, representativos ambos na eucaristia do corpo e do sangue do Cristo.

     Na África, o vinho de palma é usado em diversos cultos, sendo considerado néctar divino. O mesmo se verifica nos cultos ameríndios e xamânicos, onde os pajés se utilizam de bebidas para realizarem seus rituais, como o caso da cerimônia da Ayahuasca.

     Seguindo a tradição difundida culturalmente entre os povos, a Umbanda não é diferente. O fato de utilizar o álcool em seus rituais nada tem de inferioridade ou primitivismo, visto que essa substância tem um significado claro e repleto de fundamentos. O mesmo ocorre com o uso do fumo.

     As entidades e guias da Umbanda utilizam-se dos elementos que compõem o álcool e o fumo para realizarem seus trabalhos de limpeza e purificação, tanto do consulente, como de ambientes. De que forma fazem isso?

     Abaixo seguem alguns dos significados e sentidos do seu uso. 

     O Fumo 

 
     O segredo e a utilização, desses elementos por parte de nossas entidades, o modo como a fumaça é dirigida (magia) tem o seu eró (segredo) e não é como muitos utilizam, para alimentar a vaidade, o vício e a ignorância.

     O fumo é vegetal que traz o elemento terra e água em sua composição e, os elementos ar e fogo quando utilizado na defumação. Conjuga, portanto, quando usado pelas entidades de Umbanda, os quatro elementos básicos – terra, fogo, ar, água -, além do elemento vegetal nos trabalhos de magia. O fumo é utilizado como meio de descarrego, agindo sobre os chacras dos consulentes.

     O fumo é a erva mais tradicional da terapêutica psico-espiritual praticada em nossa religião. Originário do mundo novo, os nativos fumavam o tabaco picado e enrolado em suas próprias folhas, ou na de outras plantas, conhecendo o processo de curar e fermentar o fumo, melhorando o gosto e o aroma. 

     Durante o período físico em que o fumo germina, cresce e se desenvolve, arregimenta as mais variadas energias do solo e do meio ambiente, absorvendo calor, magnetismo, raios infravermelhos e ultravioletas do sol, polarização eletrizante da lua, éter físico, sais minerais, oxigênio, hidrogênio, luminosidade, aroma, fluidos etéreos, cor, vitaminas, nitrogênio, fósforo, potássio e o húmus da terra. 

     Assim, o fumo condensa forte carga etérea e astral que, ao ser liberada pela queima, emana energias que atuam positivamente no mundo oculto, podendo desintegrar fluídos adversos à contextura perispiritual dos encarnados e desencarnados. 

     O charuto e o cachimbo, ou ainda o cigarro, utilizados pelas entidades filiadas ao trabalho de Oxalá são tão somente defumadores individuais

     Lançando a fumaça sobre a aura, os plexos ou feridas, vão os espíritos utilizando sua magia em benefício daqueles que os procuram com fé. 

     Os solos com textura mais fina, com elevado teor de argila, produzem fumos mais fortes, como os destinados a charutos ou fumos de corda, enquanto os solos mais arenosos produzem fumos leves, para a fabricação de cigarros. 

     Na fabricação dos charutos, as folhas, após o processo de secagem, são reunidas em manocas de 15 á 20 folhas e submetidas a fermentação, destinada a diminuir a percentagem de nicotina, aumentar a combustividade do fumo e uniformizar a sua coloração. 

     Os tipos de fumo mais utilizados na confecção dos charutos brasileiros são: Brasil-Bahia, Virgínia, Sumatra e Havana. 

     Nos trabalhos Umbandistas a cigarrilha de odor especial é muito utilizada pelas Pombo-giras e Caboclas. 

     Os cigarros são utilizados para fins mais materiais, normalmente relacionados com negócios financeiros.

     Os charutos de fumo grosseiro e forte são peculiares à magia dos Exus, enquanto os charutos de fumo de melhor qualidade são usados por Caboclos. 

     Já os Preto-Velhos dão preferência aos cachimbos, nos quais usam diversos tipos de mistura de ervas, como o alecrim, a alfazema e outros, além de utilizarem cigarros de palha, impregnando assim os elementos com a sua própria força espiritual, transformando o tradicional “pito” em um eficiente desagregador de energias negativas

     Desta maneira, como o defumador, o charuto ou o cachimbo são instrumentos fundamentais na ação mágica dos trabalhos Umbandistas executados pelas entidades

     A queima do tabaco não traz nenhum vício tabagista, como dizem alguns, representando apenas um meio de descarrego, um bálsamo vitalizador e ativador dos chakras dos consulentes. 

     Vemos assim que, como ensinou um Pai Velho, “na fumaça está o segredo dos trabalhos da Umbanda”

     Geralmente os Guias não tragam a fumaça, utilizando-a apenas para “defumar” o ambiente e as pessoas através das baforadas, apenas enchem a boca com a fumaça e a expelem sobre o consulente ou para o ar.

     A função principal é a de defumar aqueles que chegam até a entidade. Algumas entidades deixam de lado o fumo se a casa for defumada e mantiver sempre aceso algum defumador durante os trabalhos.

     O que deve ficar entendido é que a entidade incorporada quando realiza o sopro da fumaça de seu cachimbo, charuto, ou cigarro, dando suas baforadas nos consulentes, cria com isso as condições, tanto no plano físico quanto espiritual, para a realização da magia da Umbanda, tudo sob o aval dos espíritos de luz e dos Orixás. Só o sopro em si carrega efeitos terapêuticos e espirituais poderosos, mas quando aliados à erva tem seu efeito potencializado, gerando resultados positivos como se observam nos terreiros de Umbanda.

     Bebidas  

     O álcool, tem emprego sério na Umbanda.

     Em sua essência, é líquido proveniente da cana-de-açúcar, extremamente volátil, assemelhando-se ao éter, representando elemento que facilmente transcende do plano material para o etéreo, sendo excelente auxiliar para desfazimento de energias negativas impregnadas no períspirito. Além do mais, é fogo em estado líquido, pela sua facilidade de combustão.

     Quando tomado aos goles, em pequenas quantidades, proporciona uma excitação cerebral ao médium, liberando-lhe grande quantidade de substâncias ativadoras cerebrais, acumulada como reserva nos plexos nervosos (entrelaçamento de muitas ramificações de nervos), a qual é aproveitada pelos guias, para poderem trabalhar no plano material

     Deste modo, quando o médium ingere pequena quantidade da bebida, suas idéias e pensamentos, brotam com mais e maior intensidade. É também uma forma que favorece a entidade para que tenha uma maior “liberdade de ação”

     Os Exus são os que mais fazem uso da bebida. Isto se deve ao fato de que estas linhas utilizam muito de energias etéreas, extraídas de matéria (alimentos, álcool, etc.), para manipulação de suas magias, para servirem como “combustível” ou “alimento”, encontrando então, uma grande fonte desta energia na bebida.

     Muitas pessoas condenam o uso do “marafo” (álcool, aguardente, whisky, destilados) pela falange de Exus e Pombogiras. Dizem que essas entidades estão extremamente atrasadas evolutivamente e ainda ligadas ao plano terreno, necessitando desse elemento para satisfazerem seus vícios. Nada mais errado, também. 

     A energia, como já se explicou é usada e manipulada como pelas demais linhas de trabalho da Umbanda em sua magística.

     Exus e Pombogiras por estarem em faixas vibratórias mais próximas do ambiente terreno utilizam-se da energia retirada desses elementos para realizarem seus trabalhos magísticos. Usam o álcool contido nas bebidas para descarregos, retirando energias negativas dos médiuns, do ambiente ou dos consulentes.

     O marafo também é usado para limpar/descarregar pontos de pemba ou pólvora usada em descarrego.

     O álcool ainda possui a propriedade de ser usado como “contraste”, quando a entidade age magnetizando a bebida e faz o consulente ingerí-la em pequena quantidade, permitindo-lhes visualizar o seu organismo, mostrando algum problema que deve ser cuidado. Funciona também, como elemento antisséptico para limpar e desinfetar regiões que estejam sendo tratadas pelas entidades em seus atendimentos.

     O álcool por sua volatilidade tem ligação com o ar e pode ser usado para retirar energias negativas do médium. 

     Já o álcool consumido pelo médium também é dissipado no trabalho, ficando em quantidade reduzida no organismo. 

     O perigo nestes casos é o animismo, ou seja, o Médium consumir a bebida em grandes quantidades por conta própria e não na quantidade que o Guia acha apropriada

     O Fumo e a Bebida são Indispensáveis? 

     Podemos sim ou não utilizar fumo e bebidas. 

     Estes elementos são ferramentas dos Guias para os trabalhos, que podem ou não ser utilizadas.

     A dinâmica, portanto, deve ser entendida como um todo. Alia-se, no trabalho de Umbanda, o álcool, o fumo, a energia proveniente das entidades e espíritos superiores que orientam os trabalhos, a energia presente na própria natureza através do trabalho dos elementais, bem como o ectoplasma retirado dos médiuns durante os trabalhos mediúnicos, possibilitando a cura do consulente necessitado de ajuda.

     Utilizar apenas as mãos para um determinado trabalho, é possível, mas mais trabalhoso. É uma opção do médium, caso o médium não possa ou não queira fumar e beber, o Guia irá respeitar sua decisão

     Pode neste caso solicitar apenas que sejam feitas oferendas com estes elementos, ou que um copo com sua bebida seja,deixados próximos a ele quando estiver trabalhando incorporado.

     



Saravá a Umbanda!
Salve os trabalhos espirituais!
Saravá as Casas Santas de Lei!
Axé, Axé, Axé...






Fonte: Umbanda 24 horas, C.E.U. Pai Joaquim de Angola

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