quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

INCORPORAÇÃO É PARCERIA

Por Alexandre Cumino
Texto publicado no Jornal de Umbanda Sagrada


     SABEMOS QUE A INCORPORAÇÃO, na Umbanda, não é considerada um ato de possessão, não acontece contra a vontade do médium e, sim, com sua vontade e consentimento.

     Isso é bem simples de entender, levando em consideração que os mentores de Umbanda respeitam o nosso livre arbítrio e que a incorporação é algo muito desejado entre os Umbandistas.

     Alguns poucos e raros médiuns de Umbanda são “tomados” mediunicamente sem ter passado por um processo de desenvolvimento mediúnico e, ainda assim, quando manifestam guias de Umbanda, estes vêm para lhe ajudar em primeiro lugar, para, depois, ajudar ao próximo por meio deste médium que os tenha aceito.


     Há casos de médiuns que começam a se desenvolver e, depois de algum tempo, desistem da mediunidade ou da Umbanda. Isto sempre é respeitado, no entanto, não se perde a mediunidade, e o que acontece é o médium continuar sentindo e percebendo coisas pertinentes à mediunidade e não saber o que fazer com isso. Também podemos citar casos de médiuns que vivem uma vida desregrada ou que se tornam excessivamente materialistas e, nestes poucos casos, veremos seus guias espirituais, como irmãos mais velhos, tentando o que houver de recurso para lhe orientar, às vezes abrindo mão de situações embaraçosas para fazer esta pessoa entender que precisa se dedicar o mínimo a uma vida espiritual, menos materialista e menos desregrada.

     Às vezes, isso é mal compreendido pelos médiuns mais “arredios”, que acreditam estar tomando uma “surra de Caboclo”. Na verdade, a vida é quem está lhe dando uma lição e seu Caboclo, que lhe ama, está ali tentando lhe mostrar um caminho melhor para seguir de forma mais tranquila.

      O mundo material embota nossa percepção, os prazeres e diversões limitam as consciências e, assim, é muito fácil colocar a perder uma vida inteira, chafurdando em mesquinharias e mediocridade. Nossos guias e mentores pretendem abrir nossos olhos, nos fazer acordar e nos ensinar maneiras de viver melhor, com mais qualidade de vida em qualquer circunstância. Isso implica no aprendizado constante de valores maiores que tudo aquilo que pode ser passageiro nesta vida. Desta forma, os guias se aproximam com muito respeito e amor daqueles que serão seus parceiros nesta empreitada mediúnica.

     Desenvolver a mediunidade é descobrir esta parceria e descobrir como se relacionar de uma forma tranquila com algo tão complexo, louco ou quase surreal como a incorporação de um outro ser em seu corpo e ainda compartilhar seus sentimentos e pensamentos com os sentimentos e pensamentos deste outro, que na verdade é um mestre para a vida.

     Devido ao processo de aprendizado desta parceria, o médium entrará em crise sem saber quando é ele que está se manifestando, ou quando é seu guia a tomar as rédeas, o que é muito normal, a grande maioria dos médiuns passa por isso e supera esta crise, sem presa e sem atropelo, o que faz parte de um amadurecimento mediúnico. Isso quer dizer que aprender a identificar quem é você e quem é seu guia enquanto incorporado faz parte do desenvolvimento e por mais que pareça estar ficando louco, com dupla personalidade ou enganando a si ou aos outros, o tempo se encarrega de mostrar onde estamos enganados e onde estamos acertando.

     Acertamos no amor, na confiança e na entrega e nos enganamos no desamor, desconfiança e resistência. Aceitar e se entregar é o único caminho para descobrir uma mediunidade saudável. Claro que existe um filtro: você se entrega ao que lhe faz bem. Você se entrega ao sentir a presença de guias que lhe amam. Caso contrário, ao sentir presenças desagradáveis, você aprende a resistir e usar também seu livre arbítrio para o ato de incorporar ou não.

     Tudo isso faz parte do desenvolvimento mediúnico, que é o período mais delicado da vida mediúnica, onde o médium se abre para esta nova realidade e expõe toda a sua fragilidade. Em contrapartida, este médium descobre novas forças para si e para sua vida, descobre recursos de energia e desenvolve sua percepção com relação ao que sente mediunicamente.

     Com o tempo, este médium vai descobrindo em seus guias pessoas que lhe amam e querem o seu bem. Ao longo deste tempo, vai descobrindo a personalidade de cada um de seus mentores e vai identificando o quanto eles são diferentes dele, em suas opiniões e visão de mundo. Nasce uma nova relação assim que passa a crise de identidade entre o médium e seus guias e, então, desta relação passa a vir um outro aprendizado, no qual o médium vai aprendendo a se comunicar com seus mentores e lhes ter como mestres pessoais.

     O trabalho mediúnico passa a ser uma parceria desejada e saudável e o médium agora conta com orientadores para toda a sua vida, que lhe amam e lhe respeitam acima do que estamos acostumados neste mundo tão pequeno e material. O médium descobre um novo mundo, uma nova realidade.


Saravá todo o Povo de Aruanda!
Salve todos os Orixás!
Saravá a Umbanda!
Axé...



Fonte: Jornal de Umbanda Sagrada, Fev. 2015

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